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Recentemente estive na França e levei um choque com os preços vigentes no comércio. Artigos de vestuário e alimentação escandalizam o consumidor brasileiro. O curioso é que, depois de uns cinco dias, isso deixou de constituir entrave e passei a conviver com aquele mercado numa relação de tranquilo consumidor. O salário mínimo na França está em 1, 4 mil euros que, descontadas as contribuições sociais, sobra ao assalariado 1,2 mil euros. Ao câmbio atual, serão R$ 5, 6 mil. Essa base salarial, que acresce substancialmente nos estágios superiores, permite ao povo francês ser um consumidor ativo que movimenta toda a economia e permite uma qualidade de vida confortável.
Ao sentir aquela mudança no meu comportamento de consumidor, percebi que estamos imersos numa cultura de contenção de gastos que paralisa a economia brasileira.
O pensamento produz energia que pode ser detectada por aparelhos e medida com precisão. Quando um mesmo pensamento está na cabeça de um número considerável o que é chamado de "massa crítica" e se transmite a distâncias surpreendentes. Isso explica a estagnação de nossa economia, que está imersa num universo de contenção de despesas gerada pela impotência salarial da maioria do povo brasileiro. Os salários na economia privada são tão baixos que inibem o consumo que, por sua vez, é o "primum movies" de toda a economia.
O Prêmio Nobel de Economia 2019 foi concedido a Abhijit Banerjee, que diz taxativamente: "Não se impulsiona o crescimento cortando impostos, isso se faz dando dinheiro para as pessoas. O investimento reagirá à demanda." Essa lição básica deve ser apreendida pelos nossos dirigentes que estão proclamando a necessidade de reduzir os salários do funcionalismo público aos níveis dos salários dos trabalhadores na iniciativa privada. Esse absurdo é exatamente o contrário do que deveria ser feito: aumentar os salários na economia privada. A massa salarial brasileira é recebida por milhões de trabalhadores com salário mínimo que vivem numa contenção de gastos desesperadora. Esse comportamento se constitui numa "massa crítica" que comanda o consumo até mesmo daqueles que possuem rendas maiores e guardam suas sobras para quando os tempos melhorarem. Esse círculo vicioso está nos paralisando e impossibilitando o crescimento da economia.
Sem aumento do consumo o Estado se estiola, pois deixa de arrecadar seu principal imposto que é o ICMS. Estamos num beco sem saída: o Estado precisa arrecadar mais, mas não podemos mais suportar a altíssima carga tributária.
Quando foi criado o Bolsa Família, aqueles bilhões lançados no mercado produziram um aumento virtuoso que impulsionou o crescimento econômico. Agora, com os leilões do pré-sal, está se prevendo o lançamento de R$ 106 bilhões na economia de Estados, municípios e União. É possível que isso produza um impulso na retomada do crescimento, porém a medida mais salutar seria o aumento substancial do salário mínimo. Isso já foi feito uma vez, durante o governo de Getúlio Vargas (1950/54), quando, de uma canetada, foi aumentado em 100% o salário mínimo. É verdade que isso redundou no "Manifesto dos Coronéis", redigido por Golbery do Couto e Silva e que veio a causar o suicídio de Vargas e, 10 anos depois, o advento da ditadura militar.
Não queremos que se repita essa tragédia, mas os tempos são outros e o país está amadurecido no comportamento democrático. Precisamos pensar e encontrar meios para impulsionar o consumo. Nossa indústria está pronta para reagir e o setor de prestação de serviços "está com os motores ligados e na cabeceira da pista".